terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sobre o amor II

Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idia nossa. O onanista é abjeto, mas, em exata verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois "amo-te" ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstrata de impressões que constitui a atividade da alma.


25-7-1930, do Livro do Desassossego, trancrito aqui da obra citada da Fundação C. G.

2 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado, ser justamente um poeta quem coloca tanta racionalidade a explicar o que é o amor.
Quando na realidade isso é algo impossivel de definir, até porque a sua forma, expressão e intensidade, varia com a idade e experiência com que se sente.
Não concordo nada.

Medeia disse...

Caro visitante: pois não poderei de deixar de concordar com o que diz. O texto desassossegado de Bernardo Soares é curioso e servia para lançar eventual troca de opiniões, sobretudo quando colocado em contraste com o pequeno texto escrito por F. Pessoa, ele mesmo, na dobra de um guardanapo.
A intenção era destacar a exposição da Fundação e recordar este poeta genial.
Aliás, estou enjoada do tema.
Tenho de abordar outro assunto.
Ou a ausência do memo...