quarta-feira, 9 de junho de 2010

A propósito do esplendor na relva... ou apenas a propósito de um título tão...

Recordo os tempos de sol sobre os campos que ondulavam nas palmas das mãos,
A doçura das flores abertas sobre o corpo,
As marés de sonhos no fundo dos olhos-horizonte.
Ao cimo dos lábios a ponte que se estreitava entre as margens do rio azul dos risos que se enlaçavam num tempo tão verão.
Nascia em acordes rubros esse esplendor que trará consigo o cheiro da pele sobre o orvalho.
O resto do que somos.
O resto do que somos:
Pensamentos (des)articulados entre o tempo-fuga e o que foi e o que resta nesta divisão de paredes que nos impõe a ave que sobre tudo passa e comanda a vida.
Esplendor ou escombros, ou sombras ou sussurros desse fluir dentro da memória onde descaem pálpebras e se esquecem os segredos.
O resto do que somos?
E nunca será pouco o tanto que restando se colhe nas palavras.

Splendor in the Grass III - William Wordsworth (1770 - 1850)

What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.

(Ode: Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood, 175-186)

Splendor in the Grass II

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ainda não II

Amanhã vou à terra...
Nunca um regresso me pareceu tão certo.
Amanhã retornarei para mim e talvez seja esse o único caminho.
Amanhã vou à terra e estou feliz por ir.
Ver companheiros de infância(há quanto tempo...)
Reler papéis, mexer nas velhas fotografias...
As saudades que eu tinha de gostar disto!
(entretanto rola a pequena sombra de ainda não ficar... que pena...)

Ainda não...


Ainda não...
Ainda não se esgotaram os olhos fechados.
Ainda não canta nenhum rio e já não há corpo.
Ainda é tarde para abrir as mãos e nunca será cedo
( já não há tempo, para seguir o rumo dos dedos)
Ainda não posso usar a voz e os lábios cerram-se sobre um cós interior apertado.
Ainda são cegos.
Ainda os nós.
Ainda não.
Eu, ainda.