quarta-feira, 25 de junho de 2008

Glory - box de Portishead ou apenas uma recordação


Por vezes são difíceis as palavras.


Custam como dedos metálicos rombos.


Flutuam e giram no espaço onde há reis mortos e herdeiros coroados só porque os girassóis crescem mais do que cravos ou violetas


Depois há festa, um circo de soldados e homens do povo dançando sobre o túmulo do rei que já deixou de ser para voltar ao pó.


Na caneta do seu corpo pequeno, apesar da morte, há um final feliz.


Para sempre.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Banda - hoje é sempre dia para ouvir...

Aniversário

Estas são as palavras do dia que passou.
É ontem.
Ardem velas, corações iluminados de cera.
Sobem as canções como fumo, os beijos e os abraços que não tive enchem o espaço do tempo que não é hoje senão nestas linhas.
As bocas sabem a terem sido beijadas dentro do sonho, dentro do esboço a carvão.
Esse dia que passou.
Esse dia que seria meu se fosse hoje e não tivesse sido alguma coisa distante.
Alguma coisa de passado como o que disse sobre tantas palavras escritas a negro e a cinza.
Sopro as velas. Apagam-se as linhas do coração.
É apenas o dia de hoje.

terça-feira, 17 de junho de 2008

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Branca de Neve

Falta contar esta história.
A tua.
Aquela que começa no dia em que te deixei a sangrar num canto, lentamente, à espera que morresses.
Foi no dia em que por pouco não me deixei sufocar pela maçã envenenada, a maçã mais perfumada que me ofereceste.
Presente-feito engano que me fez tombar de cinzento sobre o vermelho das papoilas e me fez perder o rumo, o caminho da areia quente.
Cravei em ti um espinho como se murmurasse por dentro de um sonho, tão suave que não o sentiste nem viste que o sangue gotejava, e que era o teu sangue que fluia entre os meus dedos - era teu o sangue.
Deixei-te estar e esperei.
Morreste por fim e eu luto para cuspir o resto da maçã que me arde na garganta para que o teu nome não esqueça.
Branca de Neve sem espelho mágico.
Fico aqui.

(Branca de Neve engole a maçã envenenada - Paula Rego)

Retrato

Sejamos sérios, eloquentes, um pouco pseudo-qualquer-coisa, mas tenhamos bons livros à cabeceira, cientistas (talvez), canónicos dramaturgos, poetas, filósofos, políticos (porque não), teólogos ou, para sermos como é suposto, a Bíblia Sagrada encadernada em pele e ouro...
Fica-nos tão bem tanto papel pintado com tintas (já dizia o outro). Passamos a fazer parte desse friso formidável e heróico da nata intelectualóide - medalhados, espertos, letrados, cultos, especialistas especializados no uso de vários instrumentos com particular destaque para o uso da palavra.
Estou tonta.
Siderada.
Viva o reino animal!
Citando, novamente, o lugar comum de Pessoa (traje sempre digno e actual na moda desta época e deste tempo tão triste), resta-me dizer: vão para o diabo (sem mim)!


Nota: tens razão, Syl, para quê?... às vezes apetecia-me apagar a luz!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Como se tropeça numa flor...


Tropecei numa rosa.
Chorava ou miava flor-animal.
Tropecei no vermelho interior do riso, escorregando no suor das folhas.
Cravei um espinho no coração do mesmo sangue,
na cor da rosa.
Esperei ou dormi feita perfume.
Despertei para outro lume.
Prefiro a casa branca e a língua de sal onde nascem flores das águas.
Outras cores...
Jardins sem rosas...
Pomares floridos, horizontais e vastos e maiores e sem pedras ou pétalas nos caminhos.

Aqui está uma menina que não desiste de esperar: Cat Power

terça-feira, 3 de junho de 2008

Esperas e navios



Grande é a vantagem de nenhuma espera.

Não sermos aguardados reconforta e tem a dimensão da improbabilidade de nos sentarmos no banco do jardim na sombra do mar que nos inquieta no olhar que vê correr pássaros e gatos...

Grande é a vantagem de nenhuma espera.

Houve tempos em que o radical do vocábulo em causa era raiz de esperança, útero feito palavra preenchendo horas e locais sem portos nem navios...

Grande é a vantagem de nenhuma espera, ainda que nas cores do outono oscile o torpor da primavera que teima em não chegar, atrasada, sem tempo.