sábado, 28 de janeiro de 2012

Objetos Diários

Nos objetos diários caberá toda e qualquer definição:
O espaço vazio entre a cadeira e a mesa emoldura o mesmo vazio que também é espaço entre cada palavra dita, por dizer, gritada, entoada ou arrancada, encostada ao corpo como uma cadeira ou cama onde repousam essas e outras palavras.
E na decoração do nada, há sempre uma parede branca onde se cravam os olhos despojados, olhos como telas escorrendo no invisível interior do quarto em que descansam as pálpebras caladas e mudas na dor silenciada.

A pele que há em mim

Esta é a música do dia.
Soa-me bem. Vale uma audição, versão dueto Márcia /JP Simões. Muito agradável e com sentido (coisa rara).
Deixo a letra. Ouçam a melodia.


Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu
E a calma a aguardar lugar em mim
O desejo a contar segundo o fim.
Foi num ar que te deu
E o teu canto mudou
E o teu corpo do meu
Uma trança arrancou
E o sangue arrefeceu
E o meu pé aterrou
Minha voz sussurrou
O meu sonho morreu
Dá-me o mar, o meu rio, minha calçada.
Dá-me o quarto vazio da minha casa
Vou deixar-te no fio da tua fala.
Sobre a pele que há em mim
Tu não sabes nada.
Quando o amor se acabou
E o meu corpo esqueceu
O caminho onde andou
Nos recantos do teu
E o luar se apagou
E a noite emudeceu
O frio fundo do céu
Foi descendo e ficou.
Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei
Para lá do fim
É preciso partir
É o preço do amor
Para voltar a viver
Já não sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber.
Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada.
O quarto vazio na madrugada
Vou deixar-te no frio da tua fala.
Na vertigem da voz
Quando enfim se cala.