segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Só distância


Longe.

É tarde. Só as velas dos barcos se encostam às nuvens.

O tempo descola farrapos sobre a distância.

A deusa caminha lentamente sobre a espuma - gotas de pedras e lágrimas.

Nada se move.

Nada se comove.

Só. Na distância.

Gritos de pássaros em chamas.
Ou anjos que cantam no coração dos amantes.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Lugar comum



...E se assim for e o sonho chegar, cantar-te-ei ao ouvido, em harmonia com o corpo que já só pertence ao espaço do teu - esse lugar comum na minha boca, nas minhas mãos - o nome do que a vida nos traz a cada instante por entre o sono, por dentro da pele a arder...

Boa Noite
(não te vás embora)
Até Amanhã
(uma nova manhã - a luz que encontro nos teus braços)

Só silêncio

Lembro-me e cai-me uma sombra-fúria em que não me reconheço.
Esboço, a preto e branco, a lágrima que deixei partir sobre um rio, ao longe no horizonte das memórias que me trazem esta cor tão cinzenta.
Seguro um grito, uma palavra que desprezo, uma palavra sobre a perda, sobre o tempo que não retorna, esse louco gigante em que me perco.
Lamento-o. Esse. O afecto desperdiçado que agora me chega a saber a coisa gasta, a trapo, a chão.
Seguro o silêncio e travo nos olhos a vontade de ser outra. Agarro-me ao silêncio, à música, aos poetas que deixo vogar sobre o meu corpo como um navio lento carregando as horas...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Boa Sorte

É bastante irresistível.

Mexe nas palavras.

Sobretudo, nas não ditas.

Sobretudo, no que pode estar para vir dentro das palavras com que tudo se constrói e que seguem por dentro da música ou do silêncio que nos fica quando tudo se cala, quando a poeira dessas mesmas palavras não nos deixa ver senão sombras... Então... É só isso... Seguir em frente com mais ou menos sorte... Sem, contudo, deixar a noite entrar. É cedo, ainda que esteja frio... Há sol.

Haverá.

Sempre.


segunda-feira, 30 de abril de 2007

Palavras e um rosto...no silêncio


Ne me quitte pas

Il faut oublier

Tout peut s'oublier

Qui s'enfuit déjà

Oublier le temps

Des malentendus

Et le temps perdu

A savoir comment

Oublier ces heures

Qui tuaient parfois

A coups de pourquoi

Le cœur du bonheur

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Moi je t'offrirai

Des perles de pluie

Venues de pays

Où il ne pleut pasJ

e creuserai la terre

Jusqu'après ma mort

Pour couvrir ton corps

D'or et de lumière

Je ferai un domaine

Où l'amour sera roi

Où l'amour sera loi

Où tu seras reine

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Je t'inventerai

Des mots insensés

Que tu comprendras

Je te parlerai

De ces amants-là

Qui ont vu deux fois

Leurs cœurs s'embraser

Je te raconteraiL'histoire de ce roi

Mort de n'avoir pas

Pu te rencontrer

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

On a vu souvent

Rejaillir le feu

D'un ancien volcan

Qu'on croyait trop vieux

Il est paraît-il

Des terres brûlées

Donnant plus de blé

Qu'un meilleur avril

Et quand vient le soir

Pour qu'un ciel flamboie

Le rouge et le noir

Ne s'épousent-ils pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Je ne vais plus pleurer

Je ne vais plus parler

Je me cacherai là

A te regarder

Danser et sourire

Et à t'écouter

Chanter et puis rire

Laisse-moi devenir

L'ombre de ton ombre

L'ombre de ta main

L'ombre de ton chien

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas.



Paroles et Musique: Jacques Brel 1959© Editions Musicales Tuttiautres interprètes: Johnny Hallyday

domingo, 29 de abril de 2007

Ainda no silêncio...


We live between birth and death
Or so we convince ourselves conveniently
When in truth we are being born and
We are dying simultaneously
Every eternal instant
Of our lives
We should try to be more
Like a flower
Which every day experiences its birth
And death
And who therefore is much more prepared to live
The life of a flower
So think of Death as a friend and advisor
Who allows us to be born
And bloom more radiantly
Because of our limits
On Earth
Think of this until you realize
Eternity
And cease to need
The illusion of Death
But do not do this
Before you lose the first great illusion
The illusion of Life
Because
To do this
You must die
Many times
And live
To Know it

--Keith JarrettDecember 5, 1974