terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Quando se escreve uma não carta de amor... (uma não frase)

Não tem destinatário.
Esta afirmação da negação virá do tempo em que Lins e Godinho se questionavam com o que havia de ser da lágrima vã e de tanto que se trocara...
Mas esse tempo de bustos de vidro e estátuas de carne era aquele em que as amendoeiras frutificavam, em que não havia mortes nem mortos (fosse ou não dia de aniversário).
Agora o que há de ser é o que não é, o não ser das cartas que não serão cartas. A língua está gasta de dizer tanto, irrecuperável, vazia, seca.
Alguém tragou toda a saliva e remoeu no escuro das sílabas surdas, não entendendo o gotejar das memórias, das manhãs claras por dentro dos olhos do sol.
Uma não carta. Não texto. Não amor.
Que ficará, no fim de tudo, no nosso céu interior? (lá vem de novo Pessoa, o mesmo das cartas ridículas...)
Não é de facto uma carta de amor.
O agora é negação do ontem do que poderia do que foi quase e não foi...
Neste dia, em particular, negamos o amor.
Nego o coração.
Uma carta.
Não.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sem palavras.