terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Pôr-de-árvore ou de como a vida pode ser bela e insuportável


Já não é a primeira vez que me sento à janela quando as árvores se prestam a este fino ocaso.
Tenho uma perspectiva clara e aberta sobre as coisas (algumas), sobre ideias e frases e conceitos que nos transportam à essência, à raiz do pensar sobre a beleza que se derrama mais ou menos (nem sempre de forma justa) sobre essas coisas, sobre nós, sobre a vida que é bela e insuportável.
Volto à janela, no último pestanejar sobre a árvore em cinza, tão esteticamente cheia de equilíbrio, tão pétala de rosa em fim de tarde (será amanhecer?) que contém em si a perfeição das tuas mãos sobre a música, da perfeição da voz dos teus dedos, da perfeição do sopro-ventania que dos olhos das crianças me chega a correr sobre as pedras das ruas em direcção ao meu coração, sabendo sempre a exacta medida desse lume-abraço necessário para que o sangue não páre.
É esta a beleza da vida, este pôr-de-árvore que é já canto-amálgama de chegada e de partida...


Fecho a janela e tudo se desfaz na mesma cinza que é também a dor da árvore a gemer por dentro da paisagem.

2 comentários:

Luís disse...

Obrigado por ler O Mal.

Medeia disse...

Não. É daqui, é desta janela que partem todos os acenos.
Obrigado pel'O Mal.