sábado, 3 de março de 2012

Estórias do meu modo funcionário de viver...


A A. R. deve de ter cerca de 15 anos. No primeiro período parecia-me promissora. Perdeu-se um pouco, entretanto. Creio que é para ela muito mais interesante a conversa com alguns outros jovens que se sentam ao fundo da sala do que ouvir que Camões imita e supera as suas fontes literárias, ou que Vénus é a figura feminina paradigmática da nossa epopeia, ou que existe uma lógica evidente a unir os vários planos narrativos e que as abundantes figuras de estilo, aparentemente tão complicadas, são usadas por nós no dia a dia, como a metonímia que vulgarmente utilizamos, quando dizemos, por exemplo, que temos um Picasso na parede da sala ou pedimos um "cimbalino" numa chávena escaldada...
Bom, esta minha jovem "amiga", que olha para mim, quando a chamo a atenção, com aqueles olhos e sorrisos que dizem "não é nada contra si, mas isto não me interessa nada...", virou-se, um dia destes, e disse: "a setôra fala disto com um entusiasmo... é como nós quando estamos no facebook e quando falamos dos nossos amigos..."
De facto, os meus maiores amigos, o meu facebook, é feito de papel... lembrei-me com saudosismo do tempo em que estudava até às 6 da manhã "Os Lusíadas"ou traduzia epigramas de Marcial...
Apesar das conversas paralelas, creio que eles me veem.
Foi isso que a A. R. me disse.
Obrigada.

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