Quando Vénus Urânia emergiu das ondas ficou lá um buraco do tamanho de um homem. Estrelas-do-mar, um prego enferrujado, minúsculas armações que em vida tinham sido famélicos peixes aderiram às partes lívidas e frescas que a lindíssima deusa abrira em pleno oceano. Ninguém tapou aquela espécie de vácuo e por expressa ainda que ignota determinação cósmica Titânia nasceu ali. (...)
E é desse buraco, no mais vazio sentido do termo, que vem tudo: as mãos que aconchegam a noite nos olhos dos filhos, a fenda-abrigo onde acolhidas são as dores em forma de amor, o cabelo que é teia e lira...
É lá nessa profundeza mais que sua que as lágrimas são engolidas às golfadas na espuma do mar-ventre onde se há-de entregar.
Sem mais.
Sem preencher a ausência do tamanho do homem que preexiste ao seu nascimento e que um dia será tudo.
Ditará tudo.
E tudo ficará por dizer no centro desse abismo.
Um comentário:
Que belíssimas "partilhas".
Obrigado.
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