terça-feira, 19 de abril de 2011

A propósito das crianças que estão a deixar de o ser, ou dramas de mães de filhas...






  • Horas infinitas a escolher a roupa (esta não fica bem, aquela faz-me mais gorda, não tenho nada para vestir, empresta-me o teu casaco castanho...);



  • Gastos que já se fazem sentir com depilações e cabeleireiro (senão os rapazes chamam-me bigodes e olham para as minhas axilas, e esta franja não me deixa ver nada, a mais velha, eu queria ter o cabelo liso, a mais nova);



  • Todas as actividades das amigas são boas (a ginástica rítmica é o máximo, mas agora prefiro a acrobática e já agora quero voltar para a natação e quero andar no clube da Joana e da Beatriz porque se fazem muitas visitas de estudo);



  • Dramas com as avaliações escolares (se eu não tiver 5 a tudo no 5º ano se calhar não entro em medicina, a mais nova, eu vou ter maus resultados porque tu não me ajudas, a mais velha);



  • Individualização do território I (ter um quarto só para mim é mais importante que ter um escritório cheio de livros);



  • Individualização do território II (tenho um quarto só para mim, mas não tenho espaço para nada, mais valia ter mantido o escritório);



  • Individualização do território III (temos cada uma um quarto, mas podemos dormir juntas esta noite?);



  • Sentimento de revolta (porque é que não posso dormir em casa das minhas amigas sempre que me apetece? És mesmo má!)



  • Esquisitices (não gosto de caldo verde, a mais velha, eu não gosto de feijão verde, a mais nova):



  • Mudanças súbitas de humor (devia estar feliz porque me deixaste ir à festa, mas sou uma infeliz e o propósito da tua existência é zangares-te comigo, a mais velha);



  • Papel de grilo falante (a mais nova, porque alguém tem de ser ponderado quando a mãe se enerva com a mais velha);



  • Trabalhos de casa fora de horas e chantagem associada (ajuda-me senão nunca mais me deito e não tenho culpa que tenhas demorado a fazer o jantar).



E, no imediato, fiquemos por aqui. Na realidade terei de me resignar a ser cada vez mais aquela que querem fechar na cave - a velha muito chata ( a tua pele está a ficar esquisita mãe, diz a mais nova, antes de cair em si e me dar um abraço).







(Isto a propósito do texto Protecção de Menores do Luís da Natureza do Mal, vivamente aconselhado)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto mais destes tópicos.
Os meninos ou as meninas, são umas flores de estufa e os responsáveis são os Pais que em alguns casos, criam pequenos monstros mimados e muito dependentes de factores motivacionais externos.
Não sabem que o verdadeiro prazer está em dar, partilhar e viver. esperam encontrar em cada excitante actividade, em cada prenda ou objecto.
Não percebem o valor transcendental do dar.
Mas a grande questão é, quando é que lhes mostrámos isso ?
Quando é que incentivámos a sua independência e espirito de partilha ?
Quando é que mostrámos que o valor de um objecto é relativo e que depende da sua vivência e história ?
Pergunto aos Pais, quando é que reflectiram com eles sobre os valores da amizade, da partilha e do prazer de uma gargalhada juntos ?