quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Encontro de palavras dentro da música...



Esta belíssima canção inspira-se nestas belíssimas palavras do poeta Frederico García Lorca. Ora vede:

Pequena Valsa Vienense (F. G. L.)

Em Viena há dez raparigas,
um ombro onde a morte soluça
e um bosque de pombas dissecadas.
Há um fragmento de manhã
no museu da geada.
Há um salão com mil janelas.

Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa com a boca fechada.

Esta valsa, esta valsa, esta valsa,
de sim, de morte e de conhaque
que molha sua cauda no mar.

Quero-te, quero-te, quero-te,
com a poltrona e o livro morto,
pelo tristonho corredor,
no sótão escuro do lírio,
na nossa cama da lua
e na dança que sonha a tartaruga.

Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa de quebrada cintura.

Em Viena há quatro espelhos
onde brincam tua boca e os ecos.
Há uma morte para piano
que pinta de azul os rapazes.
Há mendigos pelos telhados.
Há frescas grinaldas de pranto.

Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa que morre em meus braços.

Porque eu quero-te, quero-te, meu amor,
no sótão onde brincam as crianças,
sonhando velhas luzes da Hungria
pelos rumores da tarde morna,
vendo ovelhas e lírios de neve
no silêncio escuro de tua fronte.

Ai, ai, ai, ai!
Toma esta valsa do «Quero-te sempre».

Em Viena dançarei contigo
com um disfarce que tenha
cabeça de rio.
Olha que margens tenho de jacintos!
Deixarei minha boca entre tuas pernas,
minha alma em fotografias e açucenas,
e nas ondas escuras do teu andar
quero, meu amor, meu amor, deixar,
violino e sepulcro, as fitas da valsa.

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