sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ainda não II

Amanhã vou à terra...
Nunca um regresso me pareceu tão certo.
Amanhã retornarei para mim e talvez seja esse o único caminho.
Amanhã vou à terra e estou feliz por ir.
Ver companheiros de infância(há quanto tempo...)
Reler papéis, mexer nas velhas fotografias...
As saudades que eu tinha de gostar disto!
(entretanto rola a pequena sombra de ainda não ficar... que pena...)

Ainda não...


Ainda não...
Ainda não se esgotaram os olhos fechados.
Ainda não canta nenhum rio e já não há corpo.
Ainda é tarde para abrir as mãos e nunca será cedo
( já não há tempo, para seguir o rumo dos dedos)
Ainda não posso usar a voz e os lábios cerram-se sobre um cós interior apertado.
Ainda são cegos.
Ainda os nós.
Ainda não.
Eu, ainda.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Lisa Ekdahl - disco de originais em Inglês



A nossa sueca preferida que não nos cansamos de ouvir. O seu cry me a river continua a ser uma das minhas versões eleitas. Este é um disco para quebrar o silêncio.

sonhos de escama e asa














o espaço comum entre a asa e a escama é o secreto desejo animal da
humanidade: sentir-se criatura livre na imensidão

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Eu e tu

« Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

que muitas filhas te deu, casou donzela

e à noite se prepara e se adivinha

objecto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra

e ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel

não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra.»

Hilda Hilst

sexta-feira, 20 de março de 2009